Uma situação que sempre me incomodou, desde que ingressei no mercado de trabalho ainda como estagiária, é a necessidade que algumas pessoas e empresas têm de rotular os indivíduos. Você é economista, não é do campo das ideias. Você é do marketing, não deve saber se organizar. Você é secretária, não entende de gestão.
Depois de aplicar dezenas de testes e avaliações comportamentais ao longo da minha vida é possível dizer que sou uma pessoa altamente dinâmica, criativa, movida por resultados, que valoriza a liberdade e flexibilidade - pelo menos é o que acusam os resultados obtidos e que faz muito sentido para mim. Nunca me encaixei em estruturas engessadas, conservadoras e com rotina. Gosto de movimento, de improviso, de novidades e de muita dinâmica. Tenho pavor a morosidade, o que contribuiu para que me conectasse muito bem aos executivos mais energéticos, dinâmicos e exigentes. A normose nunca foi a minha praia e entendo essa característica como questão de perfil. Conheço diversas pessoas que odiariam viver as experiências profissionais que vivi e vivo.
Olhar para a minha trajetória e "ter que" definir onde eu me encaixo me incomoda profundamente porque, sem nenhuma soberba ou arrogância, eu faço muitas coisas muito bem. Logo, dizer que sou apenas Secretária Executiva ou administradora ou palestrante ou instrutora, ou empreendedora, ou professora, ou trainer de carreira, ou parecerista me traz muito desconforto, porque me vejo fazendo todas essas atividades e o melhor com muito prazer.
Por algum motivo, nos disseram - não faço ideia quem - que deveríamos escolher um único caminho a seguir. Leia-se decidir por uma única carreira. Se por acaso decidisse desenvolver outras habilidades seriam hobbies e não necessariamente sua profissão, seria talvez um plano B.
E assim, nos acostumamos a viver dentro de uma caixa, embora o jargão "pensar fora da caixa" queira nos provar o contrário. O que é uma mentira. Nós somos condicionados a pensar sim dentro de uma caixa.
Certa vez, atuando como Secretária Executiva, em uma renomada empresa, um executivo que assessorava me solicitou que preparasse uma apresentação para alguns executivos cujo objetivo era apresentar resultados esperados, indicadores e melhores práticas de atuação que corroborassem com o negócio da empresa. Passei dias preparando esse material, colhendo informações, alinhando as expectativas do meu Diretor e ao terminar a apresentação, para aproximadamente 15 gestores, um diretor de outra área soltou em tom de piada e deboche o seguinte: "Simara, então quer dizer que agora você está realizando treinamento para os gestores?".
Ficou evidente para mim, naquela fala, o que aquele executivo pensava dos profissionais de Secretariado da empresa. Me senti profundamente desrespeitada e compartilhei a situação com o meu gestor, que tentando não potencializar o assunto apenas disse: "releve, fulano é um babaca. Deixa pra lá".
A questão é, quantos "babacas" estão a solta por aí com ou sem crachá de gestor anulando e sabotando os talentos das pessoas? Ouve-se continuamente dizer "precisamos de profissionais que pensem fora da caixa", "Buscamos pessoas criativas", "com visão sistêmica", o que em determinadas situações não passa de discurso raso, demagogo, formado por tendências e sem fundamento algum.
O que eu quero dizer com tudo isso é que precisamos ter cuidado com as histórias que nos contam sobre nosso potencial e capacidade.
Já recebi muitos feedback ao longo da minha vida. Muitos transformadores outros desastrosos e que não fizeram o menor sentido. Se eu tivesse acreditado em tudo que me disseram certamente "estaria contente, porque eu tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável, e ganho quatro mil cruzeiros Por mês". (Raul Seixas).
Saiba que é possível ser bom em muitas coisas, trabalhar com aquilo que você gosta e ser bem remunerado por isso. O segredo está em encontrar os parceiros certos de jornada.
Para quem não conhece ou não lembra da música citada acima, segue a letra.
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